20/01/2023 08:09
Presidente diz que país é compreensivo "com os ricos", mas critica estudantes que não conseguem pagar suas dívidas. No encontro com reitores de universidades e institutos federais, apontou a falta de diálogo de Bolsonaro com educadores
(crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Em reunião com 106 reitores e vice-reitores de universidades e institutos federais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alfinetou a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo desmonte na educação. O chefe do Executivo apontou que o país está "saindo das trevas para voltar à luminosidade de um novo tempo".
"Eu tenho orgulho de ter vivido um momento em que a gente mais acreditou na educação. O momento que a gente mais investiu em ciência e tecnologia, em educação universitária, investiu no ensino fundamental, ensino médio e nos institutos federais", apontou.
"Não existe na história da humanidade nenhum país que conseguiu se desenvolver sem que antes tivesse resolvido o problema de formação do seu povo. Eu sei do obscurantismo que vocês viveram nos últimos quatro anos e quero dizer que estamos saindo das trevas para voltar a luminosidade de um novo tempo."
Lula fez questão de reafirmar que seu antecessor não fez nenhuma reunião com os dirigentes ao longo dos quatro anos de mandato. "O encontro com reitores é o encontro da civilização. Nunca consegui compreender a dificuldade que um presidente tinha de se encontrar com reitores uma vez por ano. A única explicação é o medo de que fariam reivindicações", alfinetou.
Com voz embargada, Lula chorou ao dizer que, em 77 anos, "nunca viu o Brasil tomado pelo ódio que foi tomado" e voltou a comparar Bolsonaro com o ex-líder americano, Donald Trump. "Quando comecei a falar com vocês, até comecei a gaguejar um pouco porque estava emocionado. Emocionado porque era impensável, eu tenho 77 anos, nunca vi o Brasil tomado pelo ódio que foi tomado. E ele foi tomado pelo ódio porque, em algum momento, esse país teve muita gente que começou a negar a política. Na hora que você nega a política, acontece o que aconteceu nos EUA com o Trump, acontece o que aconteceu no Brasil com o coisa que eu não quero falar o nome."
Lula citou também o crescimento da extrema direita em todo o mundo, e a caracterizou como um "monstro" a ser derrotado. "Acontece o que aconteceu na Hungria, acontece o que aconteceu na Itália e acontece no mundo inteiro. O surgimento de uma extrema direita fanática, raivosa, que odeia tudo aquilo que não combina com o que eles pensam é um novo monstro que temos que enfrentar e derrotar. Não é uma coisa apenas brasileira."
Autonomia
O presidente Lula prometeu que respeitará a autonomia universitária e que "não vai escolher reitores de que gosta".
"Não pensem que o Lula vai escolher o reitor que ele gosta. Quem tem que gostar de reitor são os profissionais da universidade, os estudantes, a comunidade universitária", declarou.
O presidente aproveitou o encontro para falar da morte do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina Luis Carlos Cancellier Olivo, em 2017, e responsabilizou a polícia e integrantes da operação Lava Jato pelo suicídio do dirigente.
"Faz 5 anos e 4 meses que esse homem se matou pela pressão de uma polícia ignorante, de um promotor ignorante, de pessoas insensatas que condenaram as pessoas antes de investigar e de julgar. E a gente não pôde nem fazer um ato de homenagem a ele, porque esse país deixou de ter reunião de reitores há muito tempo".
"Caloteiros ricos"
Lula minimizou a dívida de alunos com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e afirmou que o país só tem tolerância com caloteiros ricos. "Se o país tem tanta tolerância com os ricos que devem neste país, por que a gente não tem a compreensão de que um jovem que se formou pode pagar sua dívida?", questionou.
"O Brasil tem milhões de pessoas que dão cano na Previdência Social, que não pagam impostos, e essa gente deve quase R$ 2 trilhões. E eu vou me incomodar com uma dívida do estudante? Em que foi emprestado R$ 10 mil, R$ 12 mil para estudar, para se formar? Eu tenho certeza de que, na hora que esse jovem arrumar emprego, vai cumprir com o compromisso de pagar sua dívida. Fazer isso não é só ter fé, é ter crença, dar credibilidade a juventude desse país", completou, afirmando ainda que a intenção do governo é "não apenas aumentar a quantidade, mas aumentar a qualidade" do Fies.
Fonte: Correio Braziliense
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