NOTICIA

Ministério sem rumo

28/03/2019 18:02

A crise no Ministério da Educação não dá sinais de que terminará em breve. Ontem, subiu para 16 o número de exonerações nestes primeiros 86 dias de gestão: o diretor de Avaliação da Educação Básica, Paulo César Teixeira, pediu para sair. O setor onde ele trabalhava é responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com a série de demissões e o ministro Ricardo Vélez Rodríguez sob constante ameaça de perder o cargo, a pasta travou projetos da área para o país, entre os quais, o Plano Nacional de Educação (PNE).


Ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, Vélez Rodríguez atribuiu a demissão, na terça-feira, do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, a uma “puxada de tapete” do subordinado, que decidiu adiar, deste ano para 2021, a avaliação de crianças em fase de alfabetização.


Vélez cancelou a portaria. Ele argumentou que a medida precisava ser mais debatida pela equipe, mas o estrago estava feito — no mesmo dia do anúncio do adiamento, a secretária de Educação Básica do MEC, Tania Leme de Almeida, pediu demissão, porque não tinha sido consultada sobre a medida.


Nem mesmo o presidente Jair Bolsonaro escapou de dar justificativas sobre as trapalhadas no MEC. Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, transmitida na Band, o chefe do Executivo federal admitiu que há problemas no ministério. “Temos de resolver a questão. Vamos ter mais uma conversa com o atual ministro e vamos ter de decidir a questão da educação, porque, realmente, não estão dando certo as coisas lá”, afirmou.


Bolsonaro ressaltou que a pasta é uma das mais importantes. “O que a gente quer é que a garotada no ensino fundamental aprenda física, química, matemática e biologia”, destacou. “Agora, tem de ter poder de comando e indicar pessoas corretas para que isso chegue ao final da linha. É um ministério dos mais aparelhados que tem. É dificuldade para tudo que é lado”, frisou.


Resistência

O professor de ciência política da UnB David Fleischer criticou a atuação do ministro da Educação. Segundo ele, existe uma briga entre os seguidores do escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, e os outros profissionais da pasta. “Os funcionários mais competentes estão resistindo a esses ‘olavetes’”, alfinetou. Olavo de Carvalho indicou Vélez para o MEC. Na opinião do cientista político, a solução prática é mudar o comando da pasta. “Acho que a confusão não acaba até que o ministro saia.”


Especialista em política e gestão da educação pela UnB e ex-integrante do Conselho Nacional da Educação, Erasto Fortes Mendonça afirmou que a crise trará consequências educacionais. “Nunca tivemos uma indicação tão desastrosa para o MEC. O Plano Nacional de Educação (PNE), com vigência até 2024, está sendo absolutamente desconsiderado”, ressaltou. “O desastre na aprendizagem ocorrerá mais adiante. O MEC tem o dever e a competência de fazer políticas educacionais.”


O cientista político Aninho Irachande avaliou que a crise no MEC está relacionada com a forma de constituição do governo. Para ele,  Vélez não foi escolhido por competência, mas, sim, para agradar um grupo político que tem influência no Executivo. Na análise dele, os acontecimentos no ministério são um reflexo da falta de conhecimento do atual dirigente da pasta sobre o funcionamento dos cargos e dos órgãos públicos. Procurado, o MEC não respondeu aos questionamentos da reportagem.


*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa


Os exonerados


Funcionário    cargo


Rodrigo Morais    assessor

Ayrton Rippel    chefe de gabinete

Ricardo Roquetti    diretor de programa

Eduardo Melo    adjunto da Secretaria Executiva

Claudio Titericz    adjunto da Secretaria Executiva

Tiago Tondinelli    chefe de gabinete

Tiago Levi Diniz Lima    diretor da Fundação Joaquim Nabuco

Silvio Grimaldo    assessor

Luiz Antonio Tozi    secretário executivo do MEC

Robson Santos da Silva    assessor

Daniel Emer    assessor

Osmar Bernardo Junior    assessor

Iolene Lima    secretária executiva do MEC

Tânia Almeida    secretária de Educação Básica

Marcus Vinicius Rodrigues    presidente do Inep

Paulo César Teixeira     diretor de Avaliação da Educação Básica


Fonte: Correio Braziliense

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