27/11/2020 17:17
Versão em português do jogo GraphoGame está sendo desenvolvida por pesquisadores da PUCRS e será implementado pelo Ministério da Educação na rede básica de ensino
De acordo com dados de 2016 da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), 54,73% dos estudantes brasileiros que concluem o 3º ano do ensino fundamental apresentaram desempenho insuficiente no exame de proficiência em leitura. O relatório também concluiu que 33,95% dos alunos e alunas tiveram níveis insuficientes em escrita.
Para tentar mudar esse cenário, pesquisadores do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), localizado no Campus da Saúde da PUCRS, lideram uma rede de pesquisa para o desenvolvimento da versão em português do jogo GraphoGame. Criado a partir de estudos com crianças em idade de alfabetização na Finlândia, o jogo será implementado pelo Ministério da Educação (MEC) como parte da Política Nacional de Alfabetização. Foram investidos R$ 100,5 mil pelo MEC para a adaptação do jogo feita pelo InsCer.
Segundo o professor da PUCRS e pesquisador do InsCer Augusto Buchweitz, que lidera os estudos, a metodologia do GraphoGame abrange o desenvolvimento de fundamentos da consciência fonológica (a habilidade de identificar e associar os sons da língua) e o conhecimento alfabético, que envolve reconhecer, escrever letras e identificar seus sons. “Esses fundamentos são trabalhados em um ambiente de jogo muito divertido e atrativo. A mera exposição a palavras escritas e textos não leva à aprendizagem alguma a não ser que a criança seja, explicita e simultaneamente, ensinada sobre o que são letras e palavras escritas e sua relação com os sons. Trata-se de um jogo que ajuda nessa sistematicidade e, portanto, auxilia a desenvolver conhecimento e aquisição de familiaridade com o sistema alfabético”, explica Buchweitz.
Leia também: Leitura na infância auxilia o desenvolvimento cognitivo e socioemocional
Gratuito e utilizado sem a necessidade de conexão com a internet, o GraphoGame também visa contribuir para reduzir as dificuldades de ensino e alfabetização de crianças durante o período da pandemia de Covid-19, principalmente àquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “Esta ferramenta é importante pois o Brasil tem uma dificuldade imensa de alfabetizar suas crianças, principalmente as mais desfavorecidas socioeconomicamente. Alfabetizamos muito mal, mas as crianças de classe média e alta têm recursos adicionais e as escolas, prontamente, direcionam essas crianças com dificuldades para o atendimento especializado. Já as famílias mais pobres dificilmente têm opção fora da escola, e como a educação patina na alfabetização, essa criança perde a sua melhor e talvez única oportunidade de aprender a ler”, salienta o pesquisador do InsCer.
Buchweitz destaca que o jogo não substitui o papel dos professores, mas que possui caráter de apoio à alfabetização. “Sozinho o GraphoGame não irá alfabetizar a criança e não resolve esse imenso problema; não é esse o objetivo e nem poderia ser. Mas ele pode ser uma ferramenta muito útil para ajudar os professores e as famílias, e tem se mostrado eficaz no apoio à alfabetização em estudos em diferentes idiomas”, comenta.
Presente em diversos países, a adaptação do GraphoGame para novos idiomas é realizada em colaboração entre os cientistas finlandeses e universidades parceiras, como a PUCRS. “A parceria com a GraphoGame não foi por acaso. Desde 2013 o estudo da neurociência da aprendizagem da alfabetização faz parte do DNA das pesquisas do InsCer, com o projeto ACERTA e seus desmembramentos”, conta Buchweitz. Os pesquisadores do InsCer também integram de uma rede de cientistas da leitura do mundo todo, a Haskins Global Literacy Hub.
Fonte: PUCRS
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