23/08/2021 10:40
Em encontro realizado com gestores municipais na cidade de Nova Odessa (SP), o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que não adianta a busca por um diploma universitário — inclusive através de programas de financiamento como o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) — se os alunos terminam os cursos e ficam endividados "porque não tem emprego".
"Que adianta você ter um diploma na parede, o menino faz inclusive o financiamento do FIES que é um instrumento útil, mas depois ele sai, termina o curso, mas fica endividado e não consegue pagar porque não tem emprego".
Novamente, Ribeiro voltou a defender o ensino técnico profissionalizante. "O Brasil precisa de mão de obra técnica, profissional, gente com capacidade e é nesse foco que eu quero mirar agora neste restante de mandato do presidente. Escolas profissionalizantes. E aí depois o moço ou a moça, elas fazem esse curso, arrumam um emprego, e aí depois elas falam assim: 'Olha, o que eu gostaria mesmo é de ser um doutor. Eu fiz um curso técnico em veterinária, já tenho meu emprego, mas eu quero ser um médico veterinário'. Pronto, aí ela tem condição de ela mesma prover a condição de fazer esse curso numa universidade depois. Mas sai empregado", argumentou.
Protesto de estudantes
Do lado de fora do evento, um grupo de manifestantes da Une (União Nacional dos Estudantes) e da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) se reuniu para protestar contra o ministro da Educação. Em um dos cartazes, havia a seguinte mensagem: "Ministro, porque você odeia os estudantes?"
Durante sua fala, o ministro comentou brevemente o protesto. "Essa manifestação não são (sic) de alunos que querem estudar propriamente. Se eu estivesse aqui falando que as escolas tinham que ficar fechadas, talvez muita gente não viria reclamar de mim. Mas eu quero as escolas abertas", disse ele, sendo aplaudido pelos presentes.
"Senhores prefeitos, quero agradecer pela presença dos senhores, que vieram num sábado, demonstrando que vocês são pessoas interessadas com a educação. Eu tenho certeza que nenhum desses meninos barulhentos pertence a cidade de vocês. Estão estudando. Gente que estuda não tem tempo de fazer bagunça", acrescentou ele num outro momento.
A presidente da UNE, Bruna Brelaz, postou um vídeo rebatendo a declaração de Ribeiro.
Os manifestantes pediam, entre outras coisas, mais oportunidades no ensino superior. Eles, no entanto, foram reprimidos pela PM (Polícia Militar). Vídeos com ação dos policiais foram publicados pelos próprios estudantes, nas redes sociais.
"Acabamos de ser agredidos num evento do MEC com a presença do Ministro @mribeiro.mec em Nova Odessa/SP. É assim que os estudantes são tratados pelo MEC de Milton Ribeiro e de Bolsonaro!", criticou a página.
Em nota ao UOL, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que a PM acompanhou a manifestação em apoio à Guarda Municipal e que não houve detidos. "Toda denúncia pode ser registrada na Corregedoria da PM, que está à disposição para apuração", diz a pasta.
Falas desastrosas
Nas últimas semanas, o ministro da Educação tem se envolvido em algumas polêmicas com falas tidas como "desastrosas" por seus críticos.
Em uma delas, por exemplo, Ribeiro afirmou que a universidade deveria ser um espaço de acesso "para poucos" e que os institutos federais de ensino técnico sejam os verdadeiros protagonistas no futuro.
Universidade, na verdade, ela deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade.
Para sustentar a sua visão sobre o futuro da educação no país, Ribeiro afirmou que hoje o Brasil tem uma série de engenheiros e advogados "dirigindo Uber" por falta de colocação no mercado de trabalho. As declarações foram feitas em entrevista à TV Brasil.
"Se fosse um técnico de informática, conseguiria emprego, porque tem uma demanda muito grande", disse o ministro durante o programa Sem Censura.
O ministro também se queixou sobre os posicionamentos políticos de reitores das universidades federais contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e contra a pasta.
Respeitosamente, vejo que alguns deles optaram por visão de mundo à esquerda, socialistas. Eu falei para eles: se formos discutir essas questões, nunca vamos chegar a um acordo.
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